segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

João Paulo II e a "Ecclesia de Eucharistia"

     O que aconteceu com o Papa João Paulo II no decorrer de seu pontificado? Se nos primeiros anos havia um ecumenista apaixonado e empolgado com o Concílio Vaticano II, nos seus últimos anos houve uma mudança significativa.

     Teria sido o atentado sofrido em 1981, quando foi baleado? Seria a aproximação com o Cardeal Ratzinger, que João Paulo II tornou Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé? Seria um fruto do jubileu do ano 2000?

     Como explicar, por exemplo, que o mesmo Papa que, em 1986, convocou uma reunião com os líderes das principais religiões do mundo em Assis, na Itália, onde aconteceram coisas abomináveis (um ídolo budista foi colocado em cima do sacrário para os budistas presentes adorarem, as imagens de Nossa Senhora foram todas retiradas para não desagradar os presentes, etc), e que dava a entender que o Ecumenismo relativista era um caminho sem volta, assina um documento, no ano 2000, chamado "Dominus Iesus", onde reafirma de maneira firme a Santa Igreja Católica? O documento, escrito pelo Cardeal Ratzinger, tem o aval do Papa João Paulo II e causou espanto na época, como um freio impensável nesse ecumenismo irresponsável que estava sendo praticado (pelo próprio João Paulo II anteriormente, diga-se de passagem), dizendo inclusive coisas que o católico está obrigado a crer (essa linguagem no pós Concílio Vaticano II quase não se viu).

     Não posso também deixar de notar o contraste entre as preocupações do Vaticano (com João Paulo II) e a CNBB. Enquanto João Paulo consagrava os anos de 1997/1999 à Santíssima Trindade, em preparação ao jubileu do ano 2000 (1997 foi o ano de Jesus, 1998 o do Espírito Santo e 1999 o do Pai), a CNBB estava preocupada com a situação dos encarcerados, da água, do vento, de qualquer coisa, menos a fé. Em 2003 (o ano do Rosário) o Papa João Paulo II lança um documento que mudaria a minha vida, tenho que admitir, embora eu não o tenha lido na época em que foi lançado, mas somente alguns anos depois: "Ecclesia de Eucharistia", e é aqui que na verdade eu quero chegar.

     "A Igreja vive da Eucaristia!", inicia o documento, na minha opinião de 'zé ninguém' o melhor de João Paulo II. Quantos católicos que choraram de emoção com a canonização de João Paulo II conhecem o que ele escreveu? Diante dos incontáveis abusos litúrgicos cometidos a partir da Reforma Litúrgica do Papa Paulo VI, quem poderia esperar que o Papa João Paulo iria reafirmar a santa Missa como "o sacrifício da cruz que se perpetua através dos séculos" (nº 11). Quem poderia imaginar que João Paulo II faria de novo lembrar, neste documento, o Concílio de Trento? "Como não admirar as exposições doutrinais dos decretos sobre a Santíssima Eucaristia e sobre o Santo Sacrifício da Missa promulgados pelo Concílio de Trento? Aquelas páginas guiaram a teologia e a catequese nos séculos sucessivos, permanecendo ainda como ponto de referência dogmático para a incessante renovação e crescimento do povo de Deus na sua fé e amor à Eucaristia" (nº 9). As instruções do Concílio de Trento não só permanecem ainda hoje, mas permanecerão para sempre! Fazem parte da nossa fé católica! Quantos devotos de são João Paulo II ao menos procuram conhecer o que diz este Concílio?
   
     "Não há dúvidas de que a reforma litúrgica do Concílio", o do Vaticano II, "trouxe grandes vantagens para uma participação mais consciente, ativa e frutuosa dos fiéis no santo sacrifício do altar...a par destas luzes, não faltam sombras, infelizmente". Sim, João Paulo II está dizendo que alguns frutos da reforma litúrgica não foram bons. "Às vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa". Ou seja, a Missa não é um encontro fraterno, uma reunião de amigos, uma festa ou qualquer outra definição moderna que querem nos fazer acreditar. A Missa é um sacrifício, e não só isso, é o sacrifício da cruz do Calvário! "O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício". Quantos devotos de são João Paulo II não acham que a Missa é somente para recebermos Jesus na hóstia? No entanto, a Missa é muito mais: "Em virtude de sua íntima relação com o sacrifício do Gólgota, a Eucaristia é sacrifício em sentido próprio, e não apenas em sentido genérico como se se tratasse simplesmente da oferta de Cristo aos fiéis para seu alimento espiritual". Reafirmou, assim, a doutrina ("sempre válida") do Concílio de Trento, para desespero dos progressistas. "Embora banquete, permanece sempre um banquete sacrificial, assinalado com o sangue derramado no Gólgota". Espantosas verdades católicas!
   
     João Paulo II também faz uma crítica velada ao Concílio Vaticano II, afinal, se a Igreja "vive da Eucaristia", como ele afirma, como pode o Concílio Vaticano II "não ter publicado qualquer documento específico sobre o mistério eucarístico"?

     "A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções". Um discurso pós-Concílio Vaticano II dispensar as ambiguidades? Impensável! Mas, ao menos em relação à Eucaristia, João Paulo bate firme! É preciso ter uma linguagem clara!

     O Papa incentiva fortemente o culto à Eucaristia fora da Missa também, ou seja, a adoração ao Santíssimo, as visitas ao sacrário, "é bom demorar-se com ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predileto, deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração". Comparar a visita ao Santíssimo com são João, na última Ceia, quando reclinou a cabeça repousando no peito de Jesus foi genial, maravilhoso, chega a dar vontade de largar o teclado nesse momento e correr para lá, para o colo de Jesus!

     O Papa reafirma a importância de estar em comunhão com a Igreja, a importância do sacramento da Ordem (para celebrar a Eucaristia), a importância (inacreditável) do sacerdote celebrar a Eucaristia todos os dias, mesmo sem (isso mesmo, S-E-M) a presença dos fiéis, a importância de estar unido ao bispo local e ao Papa, chama ao sacramento da Confissão para recebê-la e incentiva a comunhão espiritual aos que estão impedidos, lembrando o que parece que hoje ninguém quer dizer: receber a comunhão indevidamente é causa de "condenação, tormentos e redobrados castigos".

     "Se a Eucaristia torna presente o sacrifício redentor da cruz, perpetuando-se sacramentalmente, isso significa que deriva dela uma contínua exigência de conversão". Não, meus irmãos, a Missa não é uma festa. Presentes ao sacrifício do Calvário como devemos nos portar? Dançando e batendo palmas? Como estavam Nossa Senhora e são João no Calvário, por exemplo? E não foi assim que são Pio de Pietrelcina também ensinava a participar bem da santa Missa? Ele ensinava que devemos nos portar na Missa como Nossa Senhora e são João se portaram diante da Cruz do Senhor!
   
     A comparação que o Papa faz da mulher que "desperdiça" um vidro de perfume aos pés de Jesus em Betânia com a Igreja em não temer desperdiçar seus recursos "para exprimir o seu enlevo e adoração diante do dom incomensurável da Eucaristia" também foi genial. Não tenhamos medo de desperdiçar nosso tempo deste modo!

     O Papa lembra, em relação à música, as "inspiradas melodias gregorianas". Quantos devotos de são João Paulo II já se interessaram em, ao menos, conhecer o canto gregoriano? Na conclusão do documento traz os versos de uma música maravilhosa de Mozart: "Ave, verum corpus natum de Maria Virgine, / vere passum, immolatum, in cruce pro homine!".  Quantos devotos de são João Paulo II se interessam pelo latim e pela música sacra?

     João Paulo II lamenta que, "nos anos da reforma litúrgica pós-conciliar, por um ambíguo sentido de criatividade e adaptação, não faltaram abusos, que foram motivo de sofrimento para muitos". Clama a obediência às normas litúrgicas e anuncia que pedirá que se escreva um documento específico ditando essas normas mais uma vez. Seria a "Redemptiones Sacramentum", escrita pelo Cardeal Arinze (se não me engano) e que também foi excelente.

     Por fim, como não poderia deixar de ser, fala de santa Maria, mulher "eucarística". "Existe, pois, uma profunda analogia entre o fiat pronunciado por Maria, em resposta às palavras do Anjo, e o amém que cada fiel pronuncia quando recebe o Corpo do Senhor".  O Papa tenta imaginar o que Nossa Senhora ("o primeiro sacrário da história") sentia ao receber a comunhão das mãos dos apóstolos, o mesmo Cristo que ela carregou no ventre! "Impossível imaginar!"

     Esse João Paulo II que nos presenteou com esse documento espetacular em 2003 é o mesmo que eleito foi em 1978? O mesmo Papa que, aparentemente, não quis ouvir as denúncias contra o fundador dos Legionários de Cristo, no México, de que ele tinha vida escandalosa (tudo comprovado posteriormente)? O mesmo que, embora inegavelmente um Papa mariano, não quis consagrar a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, como pediu Nossa Senhora em Fátima? O mesmo Papa que beijou o Alcorão? O mesmo João Paulo II que incentivou a Teologia da Libertação, dizendo-a como oportuna e necessária, depois foi quem a desmantelou de maneira mais forte (junto com o Cardeal Ratzinger). Mudanças aconteceram no decorrer de seu pontificado. Graças a Deus, para melhor, muito melhor! Santo? Os tradicionalistas dizem NÃO, mas o Papa Francisco disse SIM. Pode a Igreja errar numa canonização? Esse é assunto para outro texto. A mudança de João Paulo II terá sido uma graça do jubileu do ano 2000? Transformar um Papa? Se foi, peço a Deus que o jubileu extraordinário da misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, tenha o mesmo efeito.

     Para aqueles que tem João Paulo II como santo de devoção, seria pedir demais que conheçam o que ele ensinou? Já leram algo desse Papa? A "Ecclesia de Eucharistia" seria um excelente começo e, diria mais, se houver preguiça em ler todos os seus escritos (que são muitos mesmo), esse em especial é de leitura obrigatória.

Wilson Junior
   

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Discurso do Papa Paulo VI na ONU em 1965

     Quem me conhece sabe que não tenho nenhuma estima para com o pontificado de Paulo VI, que reinou na Igreja Católica entre 1962 e 1978 (se não me engano; cito de cabeça). Nem vou (ainda) começar a enumerar os problemas de seu pontificado, mas, em homenagem ao 50º aniversário do Concílio Vaticano II, deixo registrada minha análise do discurso do (beato) Papa Paulo VI na assembléia das Nações Unidas, em 4 de outubro de 1965, que tirei do livro "Vaticano II - Mensagens, Discursos, Documentos" (Ed. Paulinas). Também não é muito cômodo para um católico criticar (mesmo que seja de maneira construtiva) o Papa, mas o CDC (Código de Direito Canônico) me ampara nas preocupações em relação à fé, e um discurso público merece ser avaliado publicamente.


     Poucas vezes um discurso foi tão infeliz, partindo de um Papa. Tudo bem, Paulo VI não foi um grande Papa. O esforço que se faz no Vaticano para canonizá-lo é um escândalo e prova que as pessoas que lá estão não merecem confiança.

     A Igreja é infalível, o Papa é infalível, mas somente nas condições que o Concílio Vaticano I ensinou. Por mais horroroso que tenha sido o discurso de Paulo VI na ONU, ele não tem nenhum peso na doutrina da Igreja e em sua infalibilidade, mas, mostra o pensamento desse Papa. Não é uma entrevista ao vivo ou um improviso, onde declarações infelizes acontecem ou palavras são más interpretadas, mas um discurso programado, onde o Papa diz exatamente o que ele quer dizer.

     E o que ele disse nesse discurso?

     Neste discurso inacreditável Paulo VI saúda os membros da ONU, diz não ter nenhuma "ambição de poder temporal" e que "as Nações Unidas representam o caminho obrigatório para a paz mundial". E eu na minha ingenuidade pensando que só Cristo poderia nos dar a paz! A paz passa pela ONU obrigatoriamente! Não caia da cadeira ainda, isso é só o início do discurso!

     Paulo VI equipara o trabalho da ONU com o da Igreja Católica e clama (pasmem!) por um governo único mundial: "quase diríamos que sois caracterizados, na ordem temporal, pelo que a Igreja Católica procura ser na espiritual: única e universal". Procura ser??? E conclui Paulo VI: "quem não vê nisso o caminho para o estabelecimento de uma autoridade mundial, capaz de agir eficazmente nos planos jurídico e político?". O Papa vislumbra um governo único mundial, vindo da ONU, e o que diz a isso? "repetimos aqui o nosso voto: prossegui!".

     Mas não é só isso: a ONU vai nos ensinar a paz: "Ensinais aos seres humanos a paz. A ONU é a grande escola em que se recebe essa educação".

     Paulo VI tem o mesmo otimismo do (santo) Papa João XXIII e diz que só teremos armas defensivas "enquanto o homem for fraco, volúvel e mau", ou seja...sempre? Ou será que ele acha que o homem, ignorando a mancha do Pecado Original, que nos deu uma natureza decaída, um dia será forte e bom, com suas próprias forças, com a ONU governando-o?

     A ONU é quase canonizada por Paulo VI, que lhe atribui 'quase' uma missão sagrada: "Sentimos que sois os intérpretes do que há de mais alto na sabedoria humana, diríamos quase seu caráter sagrado". É pouca coisa? E quem é esse "sentimos"? Quem mais sente assim junto com o Papa?

     No final do discurso, Paulo VI clama por uma "parada, um momento de recolhimento, de reflexão, de oração quase". A preocupação do Papa chega a "quase" pedir para que rezem. E por que?

     "O perigo não vem nem do progresso nem da ciência, que poderão, ao contrário, resolver alguns dos grandes problemas da humanidade, quando bem utilizados. O verdadeiro perigo está no ser humano, que dispõe de instrumentos cada dia mais poderosos, tanto para sua ruína, quanto para suas maiores conquistas", ou seja, o grande perigo é uma guerra nuclear, e não perdermos nossas almas para toda a eternidade (que bobagem!).

     São esses os "princípios espirituais" que o Papa pede? "Para nós, porém, e para todos os que acolhem a inefável revelação que Cristo nos fez dele, é o Deus vivo, Pai de todos os seres humanos". Para nós é Cristo, para outros pode ser outro, o que importa é que somos todos filhos de Deus. E eu, ingenuamente, pensando que o Batismo é que me tornava filho de Deus. E eu pensando que Cristo é para todos! Sou mesmo muito ingênuo!

     Pode o discurso de um Papa (beatificado!) ser tão infeliz?

     E o que é pior: o Papa Francisco segue na mesma linha do beato Paulo VI, dá pra perceber na sua encíclica ecológica, no seu vídeo ecumênico e até na bula que proclamou o jubileu da misericórdia. Tempos difíceis!

     Wilson Junior

domingo, 7 de fevereiro de 2016

ENTREVISTAS

     Mais de um mês sem postagens, mas o blog não está abandonado!!

     Na quaresma me dedicarei exclusivamente ao blog, deixando de lado um pouco o facebook e o what's up. A idéia de realizar entrevistas é antiga, e falta-nos o material necessário para uma boa filmagem, com imagem e som.

     Resolvi começar os testes e logo postarei o primeiro entrevistado.

     Wilson Junior