segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Discurso do Papa Paulo VI na ONU em 1965

     Quem me conhece sabe que não tenho nenhuma estima para com o pontificado de Paulo VI, que reinou na Igreja Católica entre 1962 e 1978 (se não me engano; cito de cabeça). Nem vou (ainda) começar a enumerar os problemas de seu pontificado, mas, em homenagem ao 50º aniversário do Concílio Vaticano II, deixo registrada minha análise do discurso do (beato) Papa Paulo VI na assembléia das Nações Unidas, em 4 de outubro de 1965, que tirei do livro "Vaticano II - Mensagens, Discursos, Documentos" (Ed. Paulinas). Também não é muito cômodo para um católico criticar (mesmo que seja de maneira construtiva) o Papa, mas o CDC (Código de Direito Canônico) me ampara nas preocupações em relação à fé, e um discurso público merece ser avaliado publicamente.


     Poucas vezes um discurso foi tão infeliz, partindo de um Papa. Tudo bem, Paulo VI não foi um grande Papa. O esforço que se faz no Vaticano para canonizá-lo é um escândalo e prova que as pessoas que lá estão não merecem confiança.

     A Igreja é infalível, o Papa é infalível, mas somente nas condições que o Concílio Vaticano I ensinou. Por mais horroroso que tenha sido o discurso de Paulo VI na ONU, ele não tem nenhum peso na doutrina da Igreja e em sua infalibilidade, mas, mostra o pensamento desse Papa. Não é uma entrevista ao vivo ou um improviso, onde declarações infelizes acontecem ou palavras são más interpretadas, mas um discurso programado, onde o Papa diz exatamente o que ele quer dizer.

     E o que ele disse nesse discurso?

     Neste discurso inacreditável Paulo VI saúda os membros da ONU, diz não ter nenhuma "ambição de poder temporal" e que "as Nações Unidas representam o caminho obrigatório para a paz mundial". E eu na minha ingenuidade pensando que só Cristo poderia nos dar a paz! A paz passa pela ONU obrigatoriamente! Não caia da cadeira ainda, isso é só o início do discurso!

     Paulo VI equipara o trabalho da ONU com o da Igreja Católica e clama (pasmem!) por um governo único mundial: "quase diríamos que sois caracterizados, na ordem temporal, pelo que a Igreja Católica procura ser na espiritual: única e universal". Procura ser??? E conclui Paulo VI: "quem não vê nisso o caminho para o estabelecimento de uma autoridade mundial, capaz de agir eficazmente nos planos jurídico e político?". O Papa vislumbra um governo único mundial, vindo da ONU, e o que diz a isso? "repetimos aqui o nosso voto: prossegui!".

     Mas não é só isso: a ONU vai nos ensinar a paz: "Ensinais aos seres humanos a paz. A ONU é a grande escola em que se recebe essa educação".

     Paulo VI tem o mesmo otimismo do (santo) Papa João XXIII e diz que só teremos armas defensivas "enquanto o homem for fraco, volúvel e mau", ou seja...sempre? Ou será que ele acha que o homem, ignorando a mancha do Pecado Original, que nos deu uma natureza decaída, um dia será forte e bom, com suas próprias forças, com a ONU governando-o?

     A ONU é quase canonizada por Paulo VI, que lhe atribui 'quase' uma missão sagrada: "Sentimos que sois os intérpretes do que há de mais alto na sabedoria humana, diríamos quase seu caráter sagrado". É pouca coisa? E quem é esse "sentimos"? Quem mais sente assim junto com o Papa?

     No final do discurso, Paulo VI clama por uma "parada, um momento de recolhimento, de reflexão, de oração quase". A preocupação do Papa chega a "quase" pedir para que rezem. E por que?

     "O perigo não vem nem do progresso nem da ciência, que poderão, ao contrário, resolver alguns dos grandes problemas da humanidade, quando bem utilizados. O verdadeiro perigo está no ser humano, que dispõe de instrumentos cada dia mais poderosos, tanto para sua ruína, quanto para suas maiores conquistas", ou seja, o grande perigo é uma guerra nuclear, e não perdermos nossas almas para toda a eternidade (que bobagem!).

     São esses os "princípios espirituais" que o Papa pede? "Para nós, porém, e para todos os que acolhem a inefável revelação que Cristo nos fez dele, é o Deus vivo, Pai de todos os seres humanos". Para nós é Cristo, para outros pode ser outro, o que importa é que somos todos filhos de Deus. E eu, ingenuamente, pensando que o Batismo é que me tornava filho de Deus. E eu pensando que Cristo é para todos! Sou mesmo muito ingênuo!

     Pode o discurso de um Papa (beatificado!) ser tão infeliz?

     E o que é pior: o Papa Francisco segue na mesma linha do beato Paulo VI, dá pra perceber na sua encíclica ecológica, no seu vídeo ecumênico e até na bula que proclamou o jubileu da misericórdia. Tempos difíceis!

     Wilson Junior

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