terça-feira, 8 de setembro de 2015
O IRMÃO DE ASSIS
Este comentário do livro "O IRMÃO DE ASSIS" na verdade é de 28/07/2011, mas eu já li duas vezes este livro e achei muito bom. Reproduzo o texto que escrevi, na época, aí abaixo:
Bom dia a todos!
Acabei (hoje) de ler o livro "O irmão de Assis" (Inácio Larrañaga - Edições Paulinas).
O que dizer? É como colocar todas as nossas misérias diante das virtudes de São Francisco (e Santa Clara, que brilhou tanto ou mais que Francisco). É perturbador.
É perceber que não demos nada a Deus, ou pior: nem o conhecemos ainda (talvez somente por sombras).
É ver como estou preso pelas coisas, pelas criaturas, e não consigo chegar ao Pai.
"A conversão é assim. Ninguém se converte de uma vez e para sempre. Mesmo ferido o homem velho nos acompanha até a sepultura. E, como uma serpente ferida, levanta de vez em quando sua cabeça ameaçadora" (pág. 29). O livro faz com que o homem novo (que deveria estar no comando) levante sua cabeça e tente se livrar das amarras da escravidão do pecado (e do homem velho).
O autor lembra que hoje em dia há a tentação de dizer que são Francisco encontrou Deus em meio aos pobres.
Mas, "não há nada mais contrário ao processo histórico de sua vida e as suas próprias palavras" (pag. 44).
"A sensibilidade extraordinária de Francisco para com os pobres proveio do cultivo de um relacionamento pessoal com o Senhor..." (idem).
"'O Senhor me levou para o meio dos leprosos e com eles usei de misericórdia'. Portanto, encontrou primeiro o Senhor, e foi o Senhor quem o levou pela mão aos leprosos, e não o contrário." (ainda pág. 44).
Aquela coisa de filmes românticos, que colocavam um amor entre Clara e Francisco como dois amantes se desfaz com o livro. É impressionante o amor que ambos têm por Cristo, pela Cruz, pela Igreja, pelos pobres. Não havia espaço para um amor humano em seus corações, tão repletos do essencial. Inacreditável!
O contato das criaturas com Francisco era sensacional.
Se há teólogos que duvidam hoje da Bíblia , de partes em que animais falavam, de milagres, deveriam conhecer a vida do Pobre de Deus. Os animais eram mais do que dóceis com Francisco, e, por fim, mesmo a 'irmã dor' (como ele chamava) se compadeceu de sua debilidade física (pela doença e chagas) e ele já não sentia nada, perto de receber a 'irmã morte'.
Impressiona quando, num momento de tristeza e desânimo com os rumos que a Fraternidade está tomando, Clara lhe exorta com uma santa audácia (exortar são Francisco, seu inspirador!).
"Pai Francisco, o ideal, a Ordem, a Pobreza, são certamente uma 'coisa' importante. Mas, levanta um pouco os olhos; olha ao teu redor e verás uma realidade sem fim, altíssima: Deus" (pág. 294).
"Mas, se agora reina alguma sombra em teu interior, é sinal que estás preso a alguma coisa e que Deus ainda não é o teu Tudo. Daí a tua tristeza. Em resumo, é sinal que catalogaste como obra de Deus o que, na realidade, é o bra tua. Para a perfeita Alegria só te falta uma coisa: desapegar-se da obra de Deus e ficar só com o próprio Deus, completamente despojado. Ainda não és completamente pobre, irmão Francisco, e por isso ainda não és completamente livre, nem feliz. Solta-te de ti mesmo e dá o salto mortal: Deus é, e basta" (pág. 295).
O livro traz seu início (antes da 'noite de Espoleto'), o início, o desapego de tudo para servir a Deus, os escárnios, os primeiros irmãos, a viagem à Roma para ver o Papa, as traições dentro da Fraternidade dos irmãos menores (já muitos numerosos), os encontros com Clara sempre enriquecedores, até mesmo suas viagens à terra dos infiéis muçulmanos (nas Cruzadas), e nesse tempo todo é como se nos tornássemos amigos do Pobrezinho de Assis.Sua incrível comunhão com os animais, seus cânticos imortais (que cantamos nas Igrejas ainda hoje), as chagas que ele recebe em seu corpo. Passamos a sofrer e se identificar com Francisco como alguém da família. Alguém que conseguiu aquilo que ainda não tivemos nem coragem de tentar: entregar-se todo a Deus.
"Estou crucificado, irmã Clara, disse Francisco. A dor me morde como um cachorro raivoso e me tritura os ossos.
- Pai Francisco, que é que eu posso dizer? Tu sabes tudo. Tu nos falaste tantas vezes do Senhor crucificado.
Ouvindo essas palavras, o irmão crucificado abriu os olhos como se estivesse acordando de um letargo...Como pude esquecer meu Senhor Pobre e Crucificado?...Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã dor, companheira inseparável de meu Senhor Crucificado" (pág. 357).
Mesmo sem ser teólogo, doutor, são Francisco diz verdades (tão esquecidas hoje em dia).
"Pensando em dar-lhe maior alívio, Leão acrescentou: 'Irmão Francisco, pensa também em Jesus Ressuscitado, essa lembrança há de consolar tua alma'. O irmão respondeu: 'Os que não sabem do Crucificado, não sabem nada do Ressuscitado. Os que não falam do Crucificado também não podem falar do Ressuscitado. Os que não passam pela Sexta-feira Santa nunca vão chegar ao Domingo da Ressurreição...Não há nada mais alto que o cume do Calvário. Não o supera nem o pico da Ressurreição. Ou melhor, os dois são o mesmo pico" (pág. 315).
Quando vai chegando o final da vida de Francisco (e do livro) vamos já sentindo falta.
Falta do livro? Falta de são Francisco? Não, falta de Deus!Como quando quase foi destroçado pelas pessoas numa cidade onde todos queriam tocar o "Santo di Dio!".
"Quase foste devorado pela fera popular, Irmão Francisco - disse frei Leão.
- Deus! Deus! Irmão Leão, é a Deus que querem devorar. As pessoas têm fome de Deus. Quando sentem o odor de Deus, perdem a cabeça e se lançam como feras para devorá-lo. Deus, irmão Leão, Deus!" (pág. 349).
No final do livro não há como manter-se inalterável.
Choramos com o frei Leão, com santa Clara e outros companheiros de Francisco, como se perdêssemos alguém da família, muito querido.
São Francisco de Assis, rogai por nós.
Santa Clara de Assis, rogai por nós.
Cristo, tem piedade de nós.
Pax Domini
Wilson Junior
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