Beata Anna Catharina Emmerich
Wilson Jr.
09/11/2012
Começamos o século XIX
com a vida de uma beata: Anna Catharina
Emmerich (1774-1824). É conhecido um livro chamado “O Rosário e a Via-sacra
nas visões de Anna Catharina Emmerich”. Freira alemã estigmatizada (recebeu as
chagas de Cristo), ela não teve visões apenas sobre os mistérios do Rosário,
mas também a respeito dos tempos futuros.
Problemas:
embora tenha sido beatificada pelo Papa João Paulo II em 03 de outubro de 2004,
há controvérsias a respeito de suas visões, que foram retiradas do processo,
sendo julgada apenas a vida da freira alemã.
Na
homilia de beatificação, João Paulo II nem toca nesse assunto (visões), mas
fala apenas da vida de Anna (http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/2004/documents/hf_jp-ii_hom_20041003_beatifications_po.html) . E há um trabalho acadêmico
bem amplo sobre suas visões, em http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=emmerick&lang=bra. Este trabalho é bem crítico,
não só às suas visões (que possuem elementos cabalísticos e esotéricos, segundo
o autor) mas também de sua vida pessoal.
Ainda não li
totalmente o trabalho crítico (ele é bem longo), mas ainda o farei. A
princípio, levarei em consideração
SIM a vida e obra da beata Anna Catharina. Pode ser que com o tempo
cheguem novos fatos, novas conclusões (vinda do Vaticano; uma possível
canonização). A Igreja voltaria atrás em uma beatificação? Acho bem improvável.
Leigamente falando, um homem ou mulher
proclamado “beato” pela Igreja está no Céu. Foi santo na Terra? Não
necessariamente. Seus escritos são dignos de confiança e podem ser aceitos
pelos fiéis sem exitar? Não necessariamente. Bem complexa a questão, por culpa
do próprio Vaticano (bastaria o Papa se pronunciar sobre isso para acabar as
especulações).
Vamos
às visões relativas ao futuro, que é o que nos importa nesse estudo. Tirarei as
informações de http://www.fimdostempos.net/futuro_igreja_visoes_emmerick.html
. Não concordo com os comentários que o site faz das visões, mas como estão
sendo levadas todas as hipóteses em consideração, tudo bem.
“Vi ao Papa em oração rodeado de
falsos amigos, que muitas vezes faziam o contrário do que se lhes mandava”
O site
faz referência a João Paulo II nessa visão, o que acho bem precipitado e
improvável. Realmente João Paulo não era obedecido por muitos bispos, mas acho
mais crível que ela estivesse falando, nesse momento, de seu tempo.
O Papa era, então, Gregório XVI
(1765-1831).
Este Papa lutou contra o
Liberalismo, contra o Ecumenismo, contra a Liberdade de imprensa, religiosa e
de consciência, condenou a separação entre Igreja e Estado, entre outras coisas
(http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=documentos&subsecao=enciclicas&artigo=mirarivos&lang=bra). É bem possível que seus
bispos não concordassem com todas as suas decisões, embora não abertamente (por
isso chamados de “falsos amigos”).
A visão segue, dizendo que Nossa
Senhora impede o avanço dos que querem destruir a Igreja, ao menos onde ela
está com seu manto.
“Vi
então vir um novo Pontífice em procissão. O Papa era bem mais jovem e enérgico
que o anterior”
O site, mais uma vez, faz
referência a João Paulo II e Bento XVI, que o sucedeu. Porém, continuo vendo
mais sentido em Papas mais próximos da beata (por enquanto), pois Gregório XVI
morreria em 1831 com 80 anos (quando eleito tinha 66) e foi sucedido por Pio IX, então com 54 anos (bem mais jovem). Este
Papa também foi beatificado pela Igreja (João Paulo II, no ano 2000).
“Antes
que o Papa começasse a festa que tinha preparado aos seus e estes lançaram da
assembleia, sem contradição nenhuma, a uma multidão de eclesiásticos, uns de
elevado poder, outros de pouca significação, os quais saíram murmurando, cheios
de cólera”.
Chega a ser risível a
“interpretação” do site, fazendo referência desta visão à “reunião de
Aparecida”. A “festa” que o Papa tinha
preparado seria, ao meu ver, o Concílio Vaticano I. Isso faz muito mais
sentido. Já se sabia que uma das questões do Concílio seria o dogma da
infalibilidade papal.
Em seguida a visão fala de, sobre
a Igreja de são Pedro, resplandecer a são Miguel Arcanjo, “vestido
de cor vermelha, tendo uma grande bandeira de combate nas mãos”.
Essa parte parece já fazer parte à época do Papa Leão XIII que, no final do
século, teve uma horrível visão diabólica e fez uma oração e um exorcismo
pedindo a são Miguel Arcanjo que lutasse pela Igreja. Esta é a oração de são
Miguel que conhecemos (“...defendei-nos no combate...”) e que o Papa Leão XIII
introduziu ao final de toda santa Missa para ser rezado de joelhos.
“A
Igreja era de cor sangrenta como o vestido do Arcanjo. Ouvi que me diziam:
‘Terás um batismo de sangue’”
O site interpreta como os tempos
futuros (para nós), onde passaríamos por perseguições, mas insisto que fazem
mais sentido na época de Leão XIII. No período em que a oração de são Miguel
foi rezada nas Missas (final do século XIX até o Concílio Vaticano II, quando
Paulo VI retirou das Missas essa oração) aconteceu uma perseguição
vermelhíssima (de sangue) à Igreja. A Guerra civil espanhola massacrou
católicos, mas principalmente a revolução russa espalhou massacres imensos (na
Rússia e países comunistas em geral). Esse “batismo de sangue” previsto pela
beata Anna Catharina Emmerich já aconteceu.
O problema da minha interpretação
é que a visão diz que “o anjo derrotou
aos inimigos, os quais fugiram em todas as direções”. Logicamente
são Miguel não será derrotado, mas essa
vitória ainda não teria vindo. A oração de são Miguel foi retirada das
Missas (mas continuou com os padres e bispos que celebram no rito antigo, tridentino).
Então a beata começa a citar algo
surpreendente: “vi construir uma igreja curiosa, falsa
e perversa”. E segue:
“Nada vinha do
alto naquela igreja; tudo provia da terra e da escuridão, e os espíritos
imundos o traziam e preparavam tudo. Só a água parecia ter em si mesma força
saudável e em certo modo santificante. Vi trazer depois para dentro dessa
igreja uma grande quantidade de instrumentos. Muitas pessoas e também meninos
levavam utensílios e instrumentos da mais variada espécie para fazer e produzir
alguma coisa; mas tudo era escuro, pervertido, privado de vitalidade e não se
via mais do que separação e divisão”.
Uma outra igreja junto com a verdadeira Igreja. O
que quer dizer “só a água parecia ter em si mesma força saudável e em certo
modo santificante”? Que nada venha do Alto pode significar que esta igreja vai colocar o Homem (e não
Deus) em primeiro lugar. Vai cuidar das coisas da Terra (e deixar as coisas
do Céu um pouco de lado, em segundo plano). Já que chegamos até aqui, eu vou
arriscar: “uma grande quantidade de instrumentos” soa para mim como música,
embora o sentido na visão não seja exatamente esse (pode até estar incluído,
mas parece ser mais geral). Esta outra
igreja parece ter triunfado no Concílio Vaticano II. Embora legítimo, este
Concílio abriu as portas para coisas novas dentro da Igreja, a ponto do Papa
Paulo VI fazer um discurso em 7 de dezembro de 1965, dizendo: “Nós também, nós mais que todos, nós temos o
culto do homem”. E quanto ao Canto Gregoriano, que o Concílio não aboliu
(assim como o latim), a Reforma Litúrgica de Paulo VI o fez. E vieram muitos
instrumentos à Igreja. Não só à Igreja, à santa Missa (esse é o pior: a
renovação do sacrifício de Cristo passou a ser acompanhada de bateria,
guitarras, etc). Será que a “água” que a
beata relata na visão seria a santa Missa? Porque, apesar de profanada, ela
seria ainda válida (nessa interpretação).
Insisto novamente numa coisa: tudo isso são suposições. Não
tenho nenhum dom extraordinário que me leva a interpretar corretamente visões
de beatos e santos. Por isso a importância do debate, das discussões, e, acima
de tudo, orações, penitências, e humildade. A ideia é ir juntando todas as
hipóteses e tentar correlacionar.
Continuando, quando a beata
relata que a igreja falsa “parecia um
sarcófago de relíquias mortas e de figuras”, já parece fazer alusão
à Tradição (embora seja absurdo). Não é exatamente essa a acusação dos
“modernos”? Que a Igreja estava velha, incapaz de se comunicar com a
humanidade? Que precisava de um novo sopro? De uma renovação? Um aggiornamento?
“Vi aqueles homens com as mantas levar lenha adiante das arquibancadas
sobre as quais estava o púlpito e acender o fogo e soprar com os foles e com a
boca e afanar-se muito; mas não saía de ali mais do que fumaça de uma
escuridão”
Impossível aqui não fazer um
paralelo também com o que o Papa Paulo VI disse (em 29/06/1972), após os
primeiros anos do Concílio Vaticano II: “Por alguma brecha, a fumaça de Satanás penetrou no templo
de Deus: a dúvida, a incerteza, o questionamento, a inquietude, a
insatisfação, o afrontamento, surgiram...Nós esperávamos que o porvir do
Concílio fosse um dia ensolarado para a Igreja, mas encontramos novas tempestades. Nós acabamos cavando novos
abismos ao invés de aplaná-los. Que aconteceu?...” Será que essas coisas que
Paulo VI relata no pós-Concílio são (espiritualmente) o “sarcófago de relíquias mortas e de figuras”? E a beata
acrescenta: “Esta Igreja é em verdade feita
pelos homens, em conformidade com a nova moda, como o é a nova igreja, não
católica, de Roma, que é também dessa espécie”. Não deixa de ser
impressionante o relato da beata. Eu confesso que fiquei bem impressionado.
Imagine quando confrontarmos tudo isso com as profecias de Nossa Senhora de La
Salette e Fátima!
Eu gostaria de abreviar ao máximo
o relato, para que o texto não fique enorme (se a pessoa quiser ver na íntegra
é só ir no link), mas é impressionante demais.
“Penetrei ademais numa sala grande daquela cidade onde se celebrava uma
cerimônia odiosa, uma horrível e falsa comédia. Tudo estava pintado de negro.
Um foi posto dentro de um caixão e depois ressuscitou. Ele estava presente em
pessoa e levava no peito uma estrela. Parecia que isto significava uma ameaça
que assim sucederia. Vi dentro ao diabo em mil formas e figuras. Tudo era
densa e escura noite: aquilo era horrível”.
Esta parte me é impossível não
lembrar de um relato do livro do padre Malachi Martin, Windswept House, em que
ele conta que aconteceu no Vaticano, durante o reinado de Paulo VI (sempre ele)
uma Missa negra, com o objetivo de
entronizar o Arcanjo Lúcifer no Vaticano. Seria essa a “cerimônia
odiosa” relatada pela beata? Não consegui identificar quem é esse “Ele”, que a beata diz que “estava presente em pessoa e levava no peito uma
estrela”. São tão terríveis essas interpretações, pesadas, que
ficamos também aterrorizados.
A beata prossegue contando que vê
a Igreja destruída (“exceto o
coro e o Altar maior”), diz que são Miguel continua a combater e
impede a entrada de muitos maus sacerdotes, diz que tudo que foi destruído será
restaurado rapidamente. Viu a Igreja abandonada. Após relatar muitas e muitas
coisas, entra no relato do AntiCristo. Como seus relatos, a partir daí, começam
a falar da batalha final, da vitória de Cristo, vamos parar por aqui. Conseguimos
nessas visões ir de Gregório XVI a Paulo VI, um pulo e tanto.
Há quem diga que o escritor
(Clemens Bretano) que anotou as visões de Anna Catharina Emmerich deu sua
“ajuda” em algumas coisas, fazendo acréscimos.
Volto a insistir: são hipóteses. Certa vez o professor
Orlando Fedeli, então presidente da Associação Cultural Montfort, disse que “cavalgar hipóteses é pior que cavalgar um
cavalo bravio”. Mas eu insisto! E mesmo correndo o risco de me estatelar no
chão, não solto as rédeas! Sei que ao final de tudo isso muita coisa vai estar
mais clara.
Próximo passo: Santa Catarina
Labouré e a medalha milagrosa de Nossa Senhora das Graças (1830) e as aparições
(e profecias) de Nossa Senhora de La Salette (1846). Adianto uma frase terrível:
“Roma será a sede do AntiCristo”.
Beatos Pio IX e Anna Catharina
Emmerich, rogai por nós!
Beatos João XXIII e João Paulo
II, rogai por nós!
Nossa Senhora de La Salette,
rogai por nós!
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