E aqui estamos nós, nas “trevas”
medievais. A autora inicia o livro ironizando os críticos medievais, que
consideram a Idade Média como uma época de “mortes,
massacres, cenas de violências, fomes, epidemias”. Ela ri de um
encontro (universitário) realizado em 1964 na França cujo tema era: “A Idade
Média seria civilizada?”: “Desejamos”,
diz a autora, com ironia, “para conforto
moral dos participantes, que nenhum tenha tido, ao voltar para o seu domicílio,
de passar diante da Notre Dame de Paris. Podia ter sentido um certo mal-estar”.
“A Idade Média significa sempre: época de ignorância, de embrutecimento,
de subdesenvolvimento generalizado, muito embora tenha sido a única época de
subdesenvolvimento durante a qual se construíram catedrais”, ironiza a
autora, mais uma vez, como também quando comenta sobre uma jornalista, que
teria declarado a respeito de um acontecimento atual: “execuções duma selvageria quase medievais!”. Sua resposta é constrangedora: “Saboreemos este ‘quase’. Certamente, no
século dos campos de concentração, dos fornos crematórios e do Goulag, como não
ficar horrorizado com a selvageria dos tempos em que se esculpia o portal de
Reims ou o de Amiens”.
No decorrer do livro a autora
(Regine Pernoud, desculpe) vai desconstruindo as idéias que normalmente temos
da Idade Média, e que são baseadas em preconceitos e lendas, como serem os
medievais “desajeitados e inábeis”, “grosseiros e ignorantes”, época de “indolência
e barbárie”, “a mulher sem alma”, etc. Ela mostra com fatos históricos como a
mulher era valorizada na Idade Média, e que somente a partir do Renascimento
(na Idade Moderna) ela passa a ser renegada a um segundo plano. Até mesmo
quando fala das bruxas que foram queimadas ela esclarece que, não na Idade
Média, mas já era também na Idade Moderna.
Regine Pernoud é especialista em
Idade Média, este é o segundo livro seu que leio e recomendo. Para desfazer
esses mitos que são tão vivos em nós sobre a Idade Média, somente o estudo
mesmo. É fato que muito do preconceito sobre os medievais vem de que esta seria
uma época totalmente “católica” (ou seja, um preconceito religioso) ou “cristã”
(dá no mesmo). Até mesmo essa imagem que temos de que a Igreja Católica mandava
no mundo a autora mostra que não era bem assim, com o exemplo do Papa que foi
expulso de Roma (Urbano II) e ficou exilado na França, entre outros.
Não é um livro muito grande, mas
riquíssimo. Se você quer alimentar suas ideologias revendo a História a seu
favor (como fazem os marxistas), esqueça! Seja feliz na sua ignorância! Se quer
aprender História através de fatos históricos, quer sejam a favor ou contra
suas convicções, com a intenção de chegar o mais perto possível da verdade (ao
menos em busca desta), esta autora e
este livro são um bom começo.
Wilson Junior
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